Coluna Portal Teófilo Otoni | Política Raiz – A política que nasce do chão – por Caio Barroso 3i184n
Por se tratar de um texto pessoal, a opinião de cada colunista não reflete necessariamente a opinião do Portal Teófilo Otoni.
Se tem uma coisa que aprendi ao longo dos últimos quinze anos de atuação nos bastidores da política é que a democracia não se constrói apenas nas urnas. Ela precisa ser vivida todos os dias, nos territórios, nas conversas, nos conselhos, nas rodas de amigos e até nas filas de espera do banco. Democracia de verdade nasce onde há escuta e só se sustenta quando há participação.
Essa coluna nasce daí: do desejo de devolver à política sua vocação original e ser um instrumento de transformação coletiva. Quero usar esse espaço para refletir com você sobre a política brasileira e mineira sem amarras ideológicas e sem ilusões. Vamos tratar da política como sendo contraditória e desafiadora, mas também necessária, mais próxima, mais nossa.
E pra começar, lanço a pergunta que guia este primeiro texto:
Quem decide quando você escolher não participar da política?
Quando deixamos a política apenas nas mãos de quem já está no poder, corremos o risco de que esses poucos decidam sem, de fato, representar os nossos interesses.E isso acontece todos os dias.
Um exemplo atual é a adesão de Minas Gerais ao Propag – Programa de Pleno Pagamento da Dívida dos Estados. O projeto, aprovado pela Assembleia Legislativa, busca reestruturar uma dívida de R$ 170 bilhões com a União, permitindo parcelamento em até 30 anos e redução de juros, desde que o Estado cumpra algumas contrapartidas. Entre elas, estão investimentos obrigatórios em áreas como educação e infraestrutura, além de limitações de gasto e o uso de ativos públicos, como imóveis e empresas estatais, para amortizar parte da dívida. Você ouviu falar disso?
Nesse contexto, a alienação de empresas como Cemig e Copasa tem ganhado destaque, já que ambas podem vir a ser utilizadas para cumprir a exigência de amortizar 20% da dívida estadual. E, sem entrar no mérito da discussão, o fato é que, por sua relevância estratégica e impacto direto na vida das pessoas, esse debate não pode ar despercebido. Acompanhar com atenção, se informar e participar são atitudes fundamentais. Deste modo, se entendermos que algo está em desacordo com aquilo que consideramos justo ou necessário, cabe a nós exercer nosso papel: questionar, opinar, participar.
Outra exigência do PROPAG, agora tratada separadamente pelo Projeto de Lei Complementar 71/2025, é a limitação do crescimento das despesas públicas ao índice da inflação, o chamado teto de gastos. Na prática, essa medida estabelece que o Estado só poderá ampliar seus investimentos em áreas como saúde, educação, segurança e infraestrutura na mesma proporção do reajuste inflacionário, mesmo que a demanda por serviços públicos aumente.
Esse mecanismo tem dois lados: de um pode comprometer a ampliação e a qualidade da prestação de serviços essenciais; de outro, é uma estratégia de controle fiscal que busca impedir que os governos gastem mais do que arrecadam, evitando o descontrole das contas públicas. E é justamente por envolver esse tipo de discussão, que precisa equilibrar responsabilidade fiscal e a garantia de direitos, que o tema exige tanta atenção, transparência – principalmente por parte do parlamento -, e participação da sociedade.
Por mais complexas que pareçam essas decisões, elas afetam diretamente o nosso dia a dia e não podemos nos afastar da política transmitindo aos parlamentares a ideia de que podem decidir sozinhos. Dar a eles um cheque em branco e deixar que eles façam o que bem entenderem.
Participar não é fácil. Dá trabalho. Requer informação, coragem, disposição para ouvir e para discordar, mas é a única forma de garantir que a política deixe de ser um jogo de poucos e e a refletir a vida real da maioria.
Por isso, a coluna Política Raiz está aberta. Para ouvir, refletir e propor. Para fincar os pés no chão da realidade e ajudar a construir caminhos mais coletivos, mais democráticos e, sobretudo, mais justos.
Se você não participa, alguém decide por você. E nem sempre esse alguém está olhando para o que você acredita.
Meu nome é Caio Barroso, mineiro de Teófilo Otoni, atualmente morando em Belo Horizonte. Comunicador, consultor político e em relações institucionais, com MBA em Ciência Política e especialização em Políticas Públicas e Direitos Sociais, e em Gestão Pública.
Até a próxima!
Descrição da coluna: a coluna Política Raiz, escrita por Caio Barroso, é um espaço de reflexão sobre participação cidadã, políticas públicas e os rumos do Brasil. Sem filtros ideológicos, com os pés no chão e ouvidos atentos à realidade dos territórios que seguem à margem do poder.
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